Vanilce Fiel

sábado, 22 de janeiro de 2011

As Encantarias do Rio Tocantins
Por: Vanilce Fiel
Esse caso aconteceu em meados da década de oitenta em um lugar chamado Ajará-Panema às margens do Rio Tocantins Município de Cametá. Tinha por volta de oito anos, mas lembro-me como se fosse hoje. Fazia parte da cultura local reunir a comunidade em torno de uma fogueira, nos dias em que se comemoravam os Santos Juninos, como sempre, o mais festejado era Santo Antônio, por ser o santo casamenteiro, e também porque, nesta localidade era tradição no dia do Santo, passarmos fogueira fazendo votos de padrinho e afilhado, compadre e comadre, minha cheira, para os que tinham os mesmos nomes, meu botão de flor, além de votos dos mais engraçados possíveis, lembro-me de duas amigas que passaram fogueira fazendo votos de se chamarem, pau de angola.
Era muito divertido, ouvir as pessoas passarem no rio gritando: ei minha cheira, outra, ei meu botão, pau de angola... Numa dessas, mamãe sugeriu que eu passasse fogueira de afilhada de uma moça velha, como dizem no interior, moças que já passaram dos 30 e ainda não casaram. A moça chamava-se Dinéia, e lembro-me também que nessa mesma noite, ela havia passado fogueira com votos de noiva e noivo com um rapaz que se chamava Antônio. Parece que o santo resolveu dar uma forcinha para a moça. Pois não é que a simpatia deu certo! Eles começaram namorar. Um namoro breve, logo se casaram, pois a moça não poderia esperar muito.
Os comentários nos domingos que sucederam o casamento eram muitos, no domingo toda a comunidade se encontra na igreja e lá colocavam as fofocas em dia. O assunto do dia era o casamento da moça velha. Não terão filhos! Já passou da idade! Ele é muito novo pra ela, logo ficará viúvo, essas coisas. Mas caros leitores, eu não os informei o principal motivo de tanto falatório, é que a minha querida madrinha de fogueira era mãe de santo, por isso as pessoas se importavam tanto com o novo casal, diziam até que ela havia feito macumba pra ele.
- Eu aposto que o nome dele está em baixo de algum santo.
- vejam como ele está magro e pálido.
- Aposto que ela fez algum ritual satânico para entregar a alma dele ao demônio.
Ouvia essas coisas todas indignada, afinal falavam da minha madrinha! E pra mim não havia nada de errado com ela, também não entendia muito as coisas que falavam acerca de macumba, feitiçaria, rituais satânicos. Mas tudo isso despertou minha curiosidade, e enchia minha mãe de perguntas. Apesar da minha mãe sempre falar que minha madrinha era uma pessoa boa, ajudava e curava as pessoas afastando o mal, tirando quebranto de criança, eu passei a ter certo medo dela, ao mesmo tempo, tudo sobre ela me fascinava, vivia pedindo pra minha mãe para ir visitá-la, cheguei até a pedir para assistir uns dos trabalhos que ela fazia na casa dela. Pra meu desencanto, não vi nada de mais, ela só ficava com voz de velha bebia e fumava muito, receitava remédios, quase sempre banhos e chás, rituais satânicos nunca vi, uma pena porque era o que eu mais temia, e o que mais me fascinava, pois nunca ninguém soube me explicar do que se tratava.
A vida seguia seu curso e aos poucos o novo casal foi deixando de ser o assunto dos domingos, até que minha madrinha ficara gestante, prenha, como diziam as pessoas no interior, mais uma vez, surgem os falatórios. Deixa está que o pior, ou melhor, ainda estaria por vir.
A gravidez transcorria, normalmente, viagens periódicas à Cametá, para as consultas, compras e mais compras, minha madrinha estava radiante com o filho que iria chegar, aproximava-se o nono mês, e os cuidados aumentavam, conforme comentava-se a criança estaria sentada, por isso, teriam que cortar a barriga da minha madrinha pra tirar o bebe, isso não entrava na minha cabeça, pois achava impossível alguém sobreviver a um corte desses, pensava que ela iria morrer, e isso me deixava triste, ou quem sabe enciumada, afinal de contas, até então eu era a única criança da vida dela, pois ela era filha única, não tinha sobrinhos, e por ela ser mãe de santo as pessoas não a convidavam para madrinha, portanto, eu reinava sozinha, e a ideia de uma outra criança, talvez não me animasse muito.
Um certo dia, amanheceu, e um mistério pairava no ar, surgiam conversas de toda natureza, a versão final seria que: durante a noite, antecipando-se o período previsto para o nascimento, minha madrinha havia sentido dor, e meu padrinho, que a essa altura eu já o havia adotado, teria saído em busca de um barco, pra que fossem pra cidade de Cametá, enquanto isso minha madrinha teria ficado só, quando meu padrinho retornou com o barco, e com a mãe dela que iria acompanhá-la. Qual a grande surpresa! Minha madrinha já teria dado luz e encontrava-se inconsciente, o desespero tomou conta das pessoas, pois a criança havia sumido, e tentavam despertar a mãe pra que ela pudesse revelar o ocorrido. Depois de algum tempo, ela retomou os sentidos e passou a narrar história.
“Antônio quando você me deixou, uma velha entrou no quarto e disse que iria fazer o meu parto, sem que eu pudesse falar, ou reagir, ela se aproximou de mim, pegou em minha barriga, e como mágica a criança nasceu, ela pegou a criança colocou junto de mim para que eu o amamentasse, e disse-me que era macho, depois que a criança mamou ela o tomou de mim e levou embora dizendo que ele ficaria bem e que o traria para me visitar, não lembro de mais nada, a não ser do meu sofrimento por ter perdido o meu filho.”
Essa conversa se espalhou por toda região. A casa dela passou a ser frequentada diariamente, pois as pessoas queriam matar suas curiosidades, e certificar- se do ocorrido. Na casa os brinquedos encontravam-se espelhados por todo canto, pois ela dizia que todas as noites ele ia mamar, brincava com seus brinquedos e depois sumia, mas somente ela o via, meu padrinho nunca o teria visto. Os anos se passaram, eu vim morar em Belém, mas em todas as férias de julho eu ia visitar meus pais e também ia ver minha madrinha. Numa das vezes, criei coragem e perguntei pelo filho dela, ela me respondeu que ele fora encantado em uma cobra, mas que quando ia visitá-la, aparecia na forma de um garoto normal, muito bonito e educado.
Depois de alguns anos, numa de minhas viagens, fiquei sabendo que minha madrinha de fogueira não morava mais lá, seu filho havia pedido para que ela se mudasse, pois o rio estava ficando estreito pra ele, esqueci de esclar os leitores, Ajará-Panema é um igarapé de mais ou menos quinze metros de largura, em alguns pontos chega a ser mais estreito e na vazante fica praticamente seco, ou seja, a cobra precisaria de um rio mais largo, foi então que minha madrinha mudou-se e até hoje não sei do paradeiro dela, alguns dizem que ela está morando no município de Moju, e garantem que seu filho ainda a visita.
Eu só sei que isso aconteceu. Não me perguntem como!

2 comentários:

Unknown disse...

Gostei da história,,conheço muito ela

abreonazahl disse...

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